terça-feira, 26 de maio de 2009

A sordidez humana

"Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça
alheia? Quem é esse em nós, que ri quando
o outro cai na calçada?"

Ando refletindo sobre nossa capacidade para o mal, a sordidez, a humilhação do outro. A tendência para a morte, não para a vida. Para a destruição, não para a criação. Para a mediocridade confortável, não para a audácia e o fervor que podem ser produtivos. Para a violência demente, não para a conciliação e a humanidade. E vi que isso daria livros e mais livros: se um santo filósofo disse que o ser humano é um anjo montado num porco, eu diria que o porco é desproporcionalmente grande para tal anjo.

Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça alheia? Quem é esse em nós (eu não consigo fazer isso, mas nem por essa razão sou santa), que ri quando o outro cai na calçada? Quem é esse que aguarda a gafe alheia para se divertir? Ou se o outro é traído pela pessoa amada ainda aumenta o conto, exagera, e espalha isso aos quatro ventos – talvez correndo para consolar falsamente o atingido?

O que é essa coisa em nós, que dá mais ouvidos ao comentário maligno do que ao elogio, que sofre com o sucesso alheio e corre para cortar a cabeça de qualquer um, sobretudo próximo, que se destacar um pouco que seja da mediocridade geral? Quem é essa criatura em nós que não tem partido nem conhece lealdade, que ri dos honrados, debocha dos fiéis, mente e inventa para manchar a honra de alguém que está trabalhando pelo bem? Desgostamos tanto do outro que não lhe admitimos a alegria, algum tipo de sucesso ou reconhecimento? Quantas vezes ouvimos comentários como: "Ah, sim, ele tem uma mulher carinhosa, mas eu já soube que ele continua muito galinha". Ou: "Ela conseguiu um bom emprego, deve estar saindo com o chefe ou um assessor dele". Mais ainda: "O filho deles passou de primeira no vestibular, mas parece que...". Outras pérolas: "Ela é bem bonita, mas quanto preenchimento, Botox e quanta lipo...".

Detestamos o bem do outro. O porco em nós exulta e sufoca o anjo, quando conseguimos despertar sobre alguém suspeitas e desconfianças, lançar alguma calúnia ou requentar calúnias que já estavam esquecidas: mas como pode o outro se dar bem, ver seu trabalho reconhecido, ter admiração e aplauso, quando nos refocilamos na nossa nulidade? Nada disso! Queremos provocar sangue, cheirar fezes, causar medo, queremos a fogueira.

Não todos nem sempre. Mas que em nós espreita esse monstro inimaginável e poderoso, ou simplesmente medíocre e covarde, como é a maioria de nós, ah!, espreita. Afia as unhas, palita os dentes, sacode o comprido rabo, ajeita os chifres, lustra os cascos e, quando pode, dá seu bote. Ainda que seja um comentário aparentemente simples e inócuo, uma pequena lembrança pérfida, como dizer "Ah! sim, ele é um médico brilhante, um advogado competente, um político honrado, uma empresária capaz, uma boa mulher, mas eu soube que...", e aí se lança o malcheiroso petardo.

Isso vai bem mais longe do que calúnias e maledicências. Reside e se manifesta explicitamente no assassino que se imola para matar dezenas de inocentes num templo, incluindo entre as vítimas mulheres e crianças... e se dirá que é por idealismo, pela fé, porque seu Deus quis assim, porque terá em compensação o paraíso para si e seus descendentes. É o que acontece tanto no ladrão de tênis quanto no violador de meninas, e no rapaz drogado (ou não) que, para roubar 20 reais ou um celular, mata uma jovem grávida ou um estudante mal saído da adolescência, liquida a pauladas um casal de velhinhos, invade casas e extermina famílias inteiras que dormem.

A sordidez e a morte cochilam em nós, e nem todos conseguem domesticar isso. Ninguém me diga que o criminoso agiu apenas movido pelas circunstâncias, de resto é uma boa pessoa. Ninguém me diga que o caluniador é um bom pai, um filho amoroso, um profissional honesto, e apenas exala seu mortal veneno porque busca a verdade. Ninguém me diga que somos bonzinhos, e só por acaso lançamos o tiro fatal, feito de aço ou expresso em palavras. Ele nasce desse traço de perversão e sordidez que anima o porco, violento ou covarde, e faz chorar o anjo dentro de nós.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Agricultura

O Fortalecimento da Agricultura
“É
a gente quer viver pleno direito
a gente quer viver todo respeito
a gente quer viver uma nação
a gente quer é ser um cidadão...”
É (Gonzaguinha)

A letra desta música nos faz lembrar um direito que todos nós que votamos e acreditamos na democracia, devemos exercer para construção de uma sociedade mais justa e solidária: o exercicio da cidadania. E este exercício se faz de várias maneiras, participando, emitindo opiniões, sobre temas que estão presente no nosso cotidiano. Não foi por acaso, que nesta abordagem, escolhi o tema fortalecimento da agricultura, pois muito tem sido falado, mas ultimamente pouco tem feito, a nível estadual, apesar dos esforços do governo federal, para o crédito chegar aos agricultores, principalmente os de características familiares, que dependem muito da assistência técnica pública, em suas propriedades. Em nível estadual esperamos dois anos, mas até o momento não temos conhecimento de nenhum programa que viesse a fortalecer efetivamente o setor. Apesar de o governo dispor de bons técnicos para execução das ações, a falta de uma política agrícola consistente, é evidenciado pela pouca regularidade de programas que venham contribuir para elevar os baixos índices de produtividades das lavouras, ou na baixa freqüência dos técnicos em campo em algumas regiões, conforme relato dos agricultores. Outro dia conversando alguns colegas me relataram a frustração por ficarem mais no escritório, quando deveriam estar mais presentes em campo. Solidarizo-me, com eles, pois como extensionista é realmente muito frustrante quase não ir a campo, além da cobrança legitima de quem mais sofre – os agricultores (trabalhadores rurais, juquireiros, quebradeiras de coco, posseiros, meeiros, pequenos proprietários).
A nível municipal discutem a LDO - Lei de Diretrizes Orçamentária, que comprende as metas e prioridades da administração pública, que servira de base para a LOA – Lei Orçamentária Anual, a ser votada pelas câmaras municipais, momento oportuno para fortalecer as Secretarias de Agricultura, responsáveis diretamente pela execução de políticas públicas para o setor primário, necessárias a dar respostas às reivindicações dos agricultores, tais como: assistência técnica efetiva ao homem do campo, aumento das produtividades da lavoura, entre outras ações que contribuem para melhoria das condições de vida dessas famílias.
Defendo que todo governo quando começasse deveria também construir um plano municipal de desenvolvimento rural sustentável, com a sociedade envolvendo os sindicatos, associações, entidades de classe, produtores e profissionais, pois daí nasceriam idéias e propostas para o desenvolvimento da agricultura do município. Os mais velhos dizem que escutar é muito bom, pois Deus foi tão sábio quando concebeu o ser humano, com duas orelhas justamente para ouvirmos mais e uma boca para falarmos menos. Entendo que a maioria dos projetos não se consolida pela falta de continuidade das ações, outrora desenvolvidas, por isso temos que pensar a agricultura, construindo um plano municipal participativo, de acordo com a aptidão das terras e vocação do município.
A formação e a valorização do capital humano é outro aspecto relevante, pois o servidor público é um patrimônio, e é justamente aí que as ações vão se consolidar e não iram sofrer por falta de continuidade, conseqüência também da rotatividade de pessoal. Com efeito, o concurso público é o caminho para uma assistência técnica formada por uma equipe multidisciplinar com visão sistêmica, que analise a propriedade de forma integrada, daí a necessidade de termos profissionais com conhecimento suficiente para identificarem as doenças e pragas das lavouras e animais, ou seja, veterinários, agrônomos e assistente social para assistir as famílias e ajudar na execução de programas do governo e técnicos agropecuários, para auxiliar o trabalho desses profissionais em nível de campo. A responsabilidade, na composição desta equipe, deve ser uma premissa básica, de quem defende o fortalecimento da agricultura do município, pois uma Secretaria deve ter veterinários e agrônomos suficientes para atender a demanda da agricultura familiar. Alguns gestores municipais já tiveram esta percepção e saíram do discurso a pratica. O município precisa ter programas próprios que cheguem ao homem do campo, passando de mero executor dos programas federais a formulador de sua própria política agrícola, adequada a sua realidade rural, é só verificar a lei orgânica do município. Não podemos esquecer pelo menos de fazer o nosso dever de casa, se quisermos que ocorra o viés da mudança, precisamos estruturar e fortalecer as Secretarias Municipais de Agricultura, reforçar o orçamento municipal, modificando a lei orçamentária anual, para melhorar as condições de trabalho daqueles que querem trabalhar e as coisas começarem a acontecer. A estruturação da secretaria municipal é fundamental, pois a maioria não dispõe sequer de uma bicicleta, para os profissionais prestarem a assistência técnica aos agricultores. Antes de tudo, temos que ter compromisso com Agricultura, principalmente nestes municípios pobres com baixo IDH – Indice de Desenvolvimentos Humano e diante desta crise se quisermos manter as famílias no campo. E o momento é agora no início dos novos governos municipais, quando muito se espera, que pelo menos o mínimo seja feito. Temos que antes de criticar ter propostas, daí a minha contribuição propositiva como Técnico.